Personalie

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010


CAP 6 – Segredo

Essa noite eu não tive sonhos.

O despertador me acordou na hora certa, 05h30min da manhã.

Eu estava cansada, mas disposta.

Eu olhei para todos os lados no meu quarto, mas não vi o garoto com quem eu conversei noite passada, o garoto que se dizia meu anjo da guarda.

Ok, talvez isso tenha sido apenas uma alucinação, coisa da minha cabeça, que está muito pesada ultimamente, ou um sonho, talvez eu tenha sonhado ontem a noite, talvez esse tenha sido o sonho. Realmente teria sido muito bom para ser verdade.

Eu me levantei e para o banheiro tomar meu banho, hoje tomei banho quente. Escovei meus dentes e meu cabelo pacientemente, procurei meu roupão, mas pelo visto ele estava no meu closet e não no banheiro, a minha sorte foi uma toalha pequena que tinha de reserva no meu banheiro, eu me encobri com ela, ou encobri o que podia com ela e abri a porta do banheiro.

- Olá. – Falou uma voz conhecida.

Eu olhei procurando o dono da voz e vi o anjo em pé ao lado da minha cama.

Em um salto eu entrei no closet.

- Olá. – Falei – Bem, será que você poderia dar licença só um minutinho? É que... Bem, eu não estou apresentável no momento.

Eu coloquei a cabeça para fora do closet, eu sentia meu rosto arder, provavelmente ele estava da cor de um pimentão.

- Oh, me desculpe – Disse ele tapando os olhos – Eu... Te espero lá fora.

Depois de dizer isso ele desapareceu.

Eu saí do closet ainda meio chocada com o fato de ter sido vista com aquela mini toalha por um garoto, ou melhor, meu anjo da guarda.

Eu vesti meu uniforme azul claro com o nome da minha escola, CAMPUS, bordado em preto. Hoje ele estava bem passado, minha mãe não poderia reclamar.

Conferi minha mochila e desci as escadas para tomar café.

Ainda encontrei meu pai e minha mãe na mesa.

- Bom dia – Eu disse sorridente.

- Vejo que está mais feliz hoje – Disse meu pai, sorridente também.

Eu não respondi, apenas sorri de volta.

- Querida, estou sabendo que falta menos de um mês para o baile de fim de ano, você vai com Jack não é? – Perguntou minha mãe, também radiante.

O sorriso no meu rosto desapareceu e meus pais trocaram um olhar de preocupação.

- O que aconteceu? – Perguntou minha mãe.

- Eu não vou ao baile, mãe. – Respondi.

- Oh, querida, por que não? Vai ser tão divertido, a Selena também deve ir, vocês deviam ir juntas comprar os vestidos!

Eu mordi meus lábios para não deixar escapar a história de que eu tinha sido traída, eu não queria dar mais um motivo para preocupar os meus pais, e minha vida amorosa não é uma coisa legal de discutir com eles, já que meu pai sempre acaba vermelho e minha mãe dando opinião.

- Eu vou terminar com o Jack, vou ficar sem par – Eu disse

Minha mãe não respondeu, pela minha expressão ela deve ter percebido que o assunto não estava me agradando nem um pouco, já meu pai, nunca se mete nas conversas sobre namorados, deve ser bem constrangedor pra ele.

Meu pai foi o primeiro a sair da mesa.

Eu tomei meu café em silêncio, minha mãe também não comentou nada.

Eu olhei o relógio no meu pulso, faltavam 15 minutos para as sete horas, eu me despedi da minha mãe e fui para a porta da minha casa onde o novo motorista (que eu ainda não tinha feito amizade, e duvido que eu vá fazer até porque ele nunca entenderia meus problemas já que ele era mais velho que meu pai pela aparência.) já me esperava dentro do carro preto.

Eu entrei no banco de traz.

- Olá, novamente. – Disse uma voz

A voz não era do motorista, eu olhei para o lado e vi o anjo.

Eu sorri pra ele.

- Me desculpe por ter entrado no seu quarto sem avisar – Disse o anjo

Eu senti meu rosto queimar de novo.

- Oh, tudo bem – eu disse – não se preocupe com isso.

O motorista olho para traz pelo espelhinho do carro que eu não sei o nome.

- O que disse? – Perguntou o motorista, provavelmente pensando que eu estava falando com ele.

- Não, não é nada – Falei

O motorista voltou a olhar a rua em silêncio.

Eu tinha me esquecido do que o anjo disse noite passada, que só os meus olhos podiam enxergar sua alma.

O carro parou na porta da escola, eu desci e o anjo saiu pelo teto, atravessando-o e flutuando atrás de mim.

Eu me assustei um pouco, eu ainda não estava acostumada a alguém flutuando atrás de mim.

Eu entrei na sala de aula e Jack e Selena tinha guardado meu lugar na frente.

Eu ignorei o lugar e fui me sentar no fundo da sala.

A professora ainda não tinha entrado na sala.

Jack e Selena estranharam meu comportamento, provavelmente, porque Jack veio até mim.

- Hei, você não vai sentar com agente hoje? – Perguntou ele.

Eu ignorei e fingir não escutar.

- É esse que é Jack? – Perguntou o anjo.

Eu balancei a cabeça positivamente.

- Letícia, você está me ouvindo? – Perguntou Jack novamente, agora mais alto.

Eu olhei pra ele, eu estava fulminando de raiva.

- Não, não vou. Pode ir fica com a Selena, Jack. Eu descobri tudo. – Falei entre os dentes.

A expressão de Jack foi assustada.

Eu sabia que ele iria fingir que não sabia do que eu estava falando.

- Do que você esta falando? – Perguntou Jack

Está vendo? Eu sabia! Isso é o que os homens dizem quando descobrimos a traição.

- Você sabe muito bem do que eu estou falando – eu disse – Já era Jack, acabou! Eu vi vocês no shopping ontem.

- Letícia, eu...

- Não adianta negar Jack, eu vi! – Gritei sem deixar ele terminar de falar

A professora estava entrando na sala e Jack saiu de perto de mim voltando para Selena novamente, eu vi quando ele conversava com ela, provavelmente contando que eu havia descoberto tudo.

A expressão dela foi a mesma de Jack, assustada.

O anjo parecia prestar mais atenção à aula de geografia do que eu.

Depois do horário duplo de Geografia o sinal bateu, eu me levantei e fui para o banheiro das meninas antes que Jack viesse falar comigo.

- Tenho que me controlar pra não armar o primeiro barraco da minha vida! – Comentei com o anjo dentro do banheiro das meninas, que estava vazio.

- Bem, eu acho melhor você respirar fundo e voltar pra sala de aula, sua próxima aula já deve estar começando.

Respirei fundo e concordei com o anjo.

Quando entrei na sala a aula de Álgebra já tinha começado, eu pedi desculpas ao professor e voltei para a minha cadeira, no fundo da sala, bem longe de Jack e Selena, que eu estava procurando ao máximo não olhar nem na cara.

No intervalo eu continuei me afastando dos traidores.

Selena parecia também não querer falar comigo, ela me encarava a todo tempo, e sua expressão não era nada amigável.

Eu não me sentei em nenhuma mesa, já que a única que eu me sentava no intervalo era a de Jack e Selena, não tinha nenhum lugar vago a não ser na mesa deles. Então eu fui devorar meu lanche no pátio, perto da quadra onde outros garotos mais novos jogavam futebol. Sentei-me em um dos banquinhos de concreto espalhados pelo pátio, o anjo ficou ali em pé olhando a paisagem ao redor.

Ele não saia de perto de mim nem por um instante, e eu já não me incomodava mais com isso, já que eu despejava todos os meus problemas na cabeça dele.

Perto da quadra de futebol estava pendurado um grande cartaz anunciando o baile.

- É dia 27 de novembro, falta menos de um mês – disse o anjo – você vai?

- Não, eu não vou. – Respondi enquanto jogava o resto do meu lanche no lixo, ou melhor, na grama.

- Por que não? Pelo que eu sei garotas gostam de bailes.

- Garotas que tem par gostam de bailes, garotas que não tem, não gostam – Eu disse com um pouco de ignorância desnecessária.

- E desde quando se precisa de par pra ir ao baile? – Disse ele se sentando ao meu lado – Eu sei que você quer ir, só não quer ver o Jack e a Selena juntos e você sem ninguém!

Dessa vez eu perdi a paciência.

- Quem disse que eu quero ir? – Gritei – Por mim eles que se explodam! Não estou nem ligando pra eles!

O anjo começou a rir desesperadamente de uma hora pra outra e quando eu olhei ao redor os garotos que estavam jogando futebol estavam todos olhando em minha direção sussurrando coisas como: “Que menina maluca, falando sozinha”.

- Eu disse que só você podia me ver – Lembrou o anjo ainda rindo.

Eu me levantei sem jeito enquanto os garotos voltavam ao jogo.

- Eu pensei que você estivesse aqui pra me ajudar e não me estressar – Sussurrei.

- Eu só disse o que é verdade, eu sei que você quer ir a esse baile.

- Ah, não sabe mesmo, eu não quero ir

- Quer sim – Disse ele em um tom que eu já percebi que ele usa pra me provocar

- Não quero – Menti novamente

- Quer sim!

- Não quero!

- QUER SIM!

Eu sabia que ele não iria desistir enquanto eu não admitisse então eu falei a verdade.

- Certo, eu quero

- Eu sabia que você queria! – Disse ele em tom de vitória.

Eu bufei.

- Eu não tenho o vestido ainda, talvez eu vá a umas lojas hoje.

- Nós vamos hoje às lojas, não vou sair de perto de você – Disse ele destacando o “nós”.

- Tudo bem, nós vamos. – Concordei

Nós ficamos rodando o colégio quando o sinal bateu.

Eu e o anjo voltamos à sala, Jack e Selena continuaram com o mesmo comportamento de antes do intervalo, e eu também não mudei o meu.

Os próximos horários foram de História e de Português, o professor de história marcou a avaliação final para amanhã e eu provavelmente vou tomar bomba, já que minha cabeça está em outro mundo com tanta coisa acontecendo, eu nunca colei na minha vida, até hoje minhas notas foram altas, mas antes meu melhor amigo estava bem, eu não sabia que minha amiga e meu namorado me traiam, e muito menos eu tinha um anjo da guarda.

A de Português foi divertida, como sempre.

O horário bateu e eu fui para a porta da escola onde o novo motorista já me esperava dentro do carro.

O percurso do colégio a minha casa foi silencioso, ninguém falou nada.

Já em casa eu tomei meu banho, dessa vez sem o anjo por perto, e depois almocei sozinha, quer dizer, o anjo estava do meu lado mas nós não conversamos.

Meus pais não estavam em casa, pelo que eu tinha visto, então ao sair eu deixei recado com uma das empregadas dizendo que eu iria ao shopping. Peguei um cartão de crédito reserva que eu tinha dentro da gaveta da minha mesinha de cabeceira e coloquei solto dentro da bolsa, já que eu tinha perdido a minha carteira no shopping ontem, e fui em direção ao shopping com o novo motorista.

Entrei no carro sem o anjo atrás de mim, eu não o via desde que entrei no banheiro para tomar meu banho.

Provavelmente ele estava evitando se colocar na mesma situação embaraçosa de hoje de manhã.

Só quando eu desci do carro na frente do shopping foi que eu vi o anjo novamente.

- Onde você se meteu? – Perguntei

- Estava te dando um tempo.

Nós entramos no shopping e fomos direto a seção de lojas de vestidos.

Entramos na primeira que vimos, uma loja chamada Diva’s Red, onde todos os vestidos são vermelhos. Vermelho não é uma das minhas cores favoritas, mesmo os vestidos sendo perfeitos no modelo não ficaram bem em mim. Definitivamente eu não fico bem de vermelho.

Então seguimos para a próxima loja, nessa tinha uma variedade de cores melhor. O anjo me deu licença para que eu experimentasse os vestidos sozinha, claro, enquanto isso ele ficou do lado de fora do lado de fora do vestuário. Às vezes eu saia e pedia a opinião dele, ele sempre dizia a mesma coisa.

- O que acha? – Perguntei pela milésima vez

- Está ótimo – Ele respondeu a mesma coisa novamente

Eu sabia que eu ainda não tinha encontrado o vestido certo.

Nenhuma das vezes em que ele responde “Está ótimo” havia um entusiasmo em sua voz, então eu sabia que ele estava respondendo isso para me agradar ou talvez para se livrar logo desse programa de comprar vestidos, apesar de que ele não parecia entediado ao ficar zanzando pela loja e me dando opinião quando eu pedia. Mas eu não comentei nada.

Depois de passar por mais ou menos cinco lojas especialistas em vestidos eu resolvi dar um tempo, então eu e o anjo fomos a uma loja de fantasias, só para brincar um pouco.

Eu peguei uma sexta com algumas fantasias e me dirigi até o vestuário. O anjo me esperou do lado de fora.

No meio da cesta cheia de fantasias, uma vermelha me chamou atenção, não havia dúvidas que era uma fantasia de diabinha, eu vesti. Ficou bem estranha, colada demais.

- Hey, está vestindo o que? – Perguntou o anjo do outro lado.

- Oh, acho que você não quer ver isso. – Respondi ainda me olhando no espelho do vestuário.

- Bem, acho que vou arriscar. – Ele disse.

Por fim, eu abri a porta.

O anjo tentou segurar o riso, mas não se deu conta.

- Isso é ridículo, vou me trocar! – Falei entrando novamente no vestuário.

Fuçando mais a sexta encontrei uma de Branca de Neve (que não coube em mim), uma de médica (que eu não alcancei o zíper), e por fim, uma de anjo. Essa eu tive que expriementar.

O vestido da fantasia era bem estilo festa, curto e rodado, era branco e tinha alguns detalhes azuis, as asinhas eram bem pequenas, brancas também.

Eu me olhei no espelho, não tinha ficado tão ruim quanto a outra.

Abri a porta do vestuário.

- Em homenagem a você. – sorri ao anjo.

Ele apenas riu sem comentar nada.

A loja estava lotada e barulhenta, muitos bailes de outras escolas seriam bailes fantasia, então tinha muita gente comprando na loja.

Uma garota mais ou menos da minha idade entrou na loja com um garoto que parecia ser um pouco mais velho que ela. Primeiro eu achei que eles eram namorados, mas depois eu vi que não pelo jeito como eles se falavam.

- Ah, João, fala sério, essa não está melhor? – Perguntou a menina enquanto mostrava ao garoto uma fantasia de fada.

- Não, nem pensar maninha, você não saí de casa com um vestido desses – Disse o menino rindo enquanto pegava uma outra fantasia, de bruxa, que tinha um vestido preto bem longo – Olha, mana, com essa você pode ir.

A menina cruzou os braços de cara feia.

- Tudo bem Jú, eu só estava brincando, pode ir com qualquer roupa que o seu irmãozinho chato não vai te perturbar – Disse o menino quando viu que a irmã dele estava chateada.

A garota pulou e abraçou o irmão.

Foi nessa hora que eu lembrei de Lucas.

Eu estava me divertindo, eu não estava lembrando que meu melhor amigo estava em coma.

Para mim, Lucas realmente é um irmão. E quando o garoto disse “irmãozinho chato” eu lembrei do meu melhor amigo, do que ele disse da última vez que nos vimos, quando ele disse para ele eu era como se fosse sua irmãzinha mais nova.

Eu não percebi, mas quando vi eu já estava chorando.

- Letícia, por que você está chorando? – Perguntou o anjo

Eu limpei as lágrimas rapidamente, eu não queria preocupar o anjo mesmo sabendo que era melhor desabafar.

- Não é nada... – Menti

- Letícia, você não me engana, eu sei que...

- Ah! Acabei de lembrar de um vestido lilás que eu vi ontem em outra loja, vamos logo, não quero que ninguém o compre na minha frente – Mudei rapidamente de assunto. – Vou me trocar e nós vamos até a outra loja.

Antes do anjo responder eu entrei novamente no vestuário para me trocar, depois ele me seguiu até a loja onde eu havia visto o vestido lilás ontem.

Eu entrei na loja, e por sorte já fui logo atendida, o vestido que eu queria ainda estava na vitrine.

Eu pedi para a moça pegar o vestido lilás na vitrine e entrei para experimentá-lo.

O anjo ficou me esperando lá fora, dessa vez, quando eu abri a porta do vestuário eu vi que seus olhinhos de violeta, que eram do mesmo tom do meu vestido, estavam brilhando.

- O que acha desse? – Perguntei enquanto dava uma voltinha.

- Está magnífico! – Respondeu a vendedora pensando que eu estava falando com ela.

Eu sorri para agradecer o elogio da vendedora, mesmo não tendo direcionado a minha pergunta a ela.

- Está linda! – Disse o anjo ainda com os olhos brilhantes.

Eu corei um pouco com a maneira que ele elogiou.

Dessa vez eu sabia que ele estava falando a verdade, dava pra ver no olhar dele.

Eu vesti minhas roupas novamente e disse à moça que levaria o vestido. Eu passei o meu cartão de credito e peguei a caixa onde estava meu vestido.

Eu peguei um táxi para ir pra casa. Já estava anoitecendo quando eu saí do shopping. O anjo e eu ficamos calados desde o momento em que saímos da loja.

Cheguei em casa e a primeira coisa que eu fiz foi deixar a caixa com o vestido em cima do sofá.

A porta do escritório do meu pai estava aberta entreaberta quando eu cheguei em casa.

Eu ouvi a voz do meu pai e deduzi que ele já tinha chegado, e por sinal estava no escritório.

- ...Clarisse, por que você não me contou isso antes? – Ouvi meu pai sussurrar dentro do escritório.

- Vitor, eu não podia! Lucas me odiaria para sempre! – Ouvi outra voz, que parecia ser a de Clarisse.

Eu cheguei mais perto e fiquei atrás da porta entreaberta.

Meu pai caminhava impacientemente de um lado para o outro e Clarisse estava sentada no sofá na frente dele segurando um copo.

- Meu Deus, em pensar que George morreu sem saber que...

Foi nesse momento que eu escorreguei em uma poça de água ou seja lá o que for que estava no chão. Quando caí deu pra ouvir um forte som de joelhos batendo no chão.

Clarisse e meu pai ouviram o barulho e olharam em minha direção. Clarisse pareceu tão nervosa que acabou deixando o copo cair no chão, a expressão do meu pai parecia preocupada, mas eu sabia que essa preocupação não era pela minha queda e sim pelo medo de eu ter ouvido o que eles estavam falando.

- Filha? A quanto tempo você está aí? – Perguntou ele enquanto me ajudava a levantar.

- Acabei de chegar – Respondi, o que não era totalmente mentira.

- Bem, eu... eu tenho que ir... Lucas... ele pode... pode precisar de mim no hospital. – Gaguejou Clarisse – Oh, mil desculpas pelo copo.

Ela saiu ainda sem jeito e evitando olhar para mim ou para o meu pai.

Meu pai sussurrou algo como “O copo é o de menos”, não sei, não entendi direito.

Eu já estava em pé, quando eu abri a boca para perguntar ao meu pai sobre o que ele e Clarisse estavam conversando ele começou a falar.

- Oh, seis horas, tenho que buscar sua mãe no salão – Disse ele saindo apressado – Tchau, querida.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa ele já estava do lado de fora da casa.

- Me desculpe por não ter enxugado a água antes, ouvi quando você caiu – Lamentou uma das empregadas.

- Não, não, tudo bem, eu estou bem – Falei.

Eu subi para o meu quarto, ainda meio confusa sobre qual o segredo que eles escondiam.

- Anjo, você ouviu alguma coisa a mais antes de mim? – Perguntei ao anjo, já no meu quarto.


Ele balançou a cabeça negativamente.

Alguém bateu na porta.

Eu abri rapidamente pensando ser meu pai para me explicar o que ele e a mãe de Lucas estavam conversando.

Mas não era meu pai, era uma das empregadas que veio me entregar o vestido que eu havia deixado em cima do sofá.

Eu agradeci e fechei a porta do quarto novamente.

Coloquei a caixa com o vestido dentro do closet e voltei ao anjo.

- Eu não sei o que eles estavam falando, mas eu juro que vou descobrir! – Comentei

- Bem, enquanto isso você deveria estudar para sua prova de história – disse o anjo – Ah, e você tem tarefas de outras disciplinas para fazer.

- Urgh! Você é um anjo da guarda ou um professor? – Resmunguei enquanto me dirigia a escrivaninha e tira os livros de dentro da mochila.

- Hum, acho que os dois. – Respondeu o anjo com o tom que usava para me provocar.

Eu demorei séculos para terminar as atividades de casa, nunca fiz tanto dever na minha vida, quando olhei o relógio já eram 08h47minh. Eu consegui terminar a tonelada de dever de casa antes das 09h00minh da noite. Mas ainda faltava estudar para a prova de história. Li e reli o assunto várias vezes, mais nada entrava na minha cabeça com tanta coisa acontecendo. Eu já estava cansada e com sono, eu bocejei umas dez vezes de mentirinha para ver se o anjo deixava eu parar de estudar. Até que eu realmente bocejei de verdade.

- Tudo bem, chega de estudar, está tarde. – Disse ele

- Finalmente! – Falei – Mas ainda vou tomar banho antes de dormir.

- Está bem, depois disse vá dormir, eu voltarei aqui amanhã.

- Ah não, você disse que deixaria eu te fazer umas perguntas, não vai agora – Pedi – Por favor.

- Me desculpe, mas tenho que deixar você dormir. – disse ele – Depois conversamos mais, você tem o tempo que quiser amanhã.

- Ok, então amanhã agente se ver de novo – Eu disse enquanto me levantava da cadeira.

- É, amanhã agente se ver de novo – Ele repetiu sorrindo pra mim.

Eu acenei para ele e ele fez o mesmo, e como ele sempre faz caminhou até a parede e desapareceu.

Eu já estava começando a me acostumar com aquilo, com o meu anjo, mas eu não sei o quanto isso vai durar, eu espero que muito tempo.

Eu fui para o banheiro e depois do meu banho eu fui dormir como ele havia recomendado.

Eu sei que amanhã eu vou ter que pescar na prova se não quiser perder, mas para falar a verdade eu prefiro perder a pescar.

Acho que tenho problemas maiores para me preocupar do que a minha prova de história amanhã, já que eu estava praticamente passada desde a terceira unidade.

Problemas que eu prefiro não lembrar. Acho que esquecendo dos problemas eu terei uma boa noite de sono.

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